segunda-feira, 7 de novembro de 2016

SOLIDARIEDADE

 Anistia Internacional condena abuso da força em invasão de escola do MST

Anistia Internacional pede que o MP dos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo apure as denúncias
Leticia Constant
RFI| (SP), 05 de Novembro de 2016 às 16:52
Ontem, dez carros de polícia da GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) chegaram à Escola Nacional Florestan Fernandes, um centro de formação de estudantes do MST / Reprodução MST

Nesta sexta-feira (4), uma ação coordenada das polícias civil e militar de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná contra integrantes do MST culminou com a invasão de uma escola em Guararema. ONG Anistia Internacional condenou a ação.
Na parte da manhã, dez carros de polícia da GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) chegaram à Escola Nacional Florestan Fernandes, um centro de formação de estudantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), em uma área rural de Guararema, no interior de São Paulo.
Armados com fuzis e escopetas, eles procuravam uma integrante do movimento que suspeitavam estar escondida na escola e apresentaram um mandado de prisão em um telefone celular, sem a presença de um oficial de justiça. Três tiros em direção do chão causaram tumulto e pânico, duas pessoas ficaram feridas e duas foram presas por desacato à autoridade. Havia 260 estudantes na escola no momento da ação.
O que é a Operação Castra, lançada contra 14 membros do MST?
A Operação Castra, nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, lançou mandados de prisão contra 14 integrantes do movimento. Eles são acusados de participar de uma organização criminosa investigada por furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado e porte de arma ilegal, entre outros crimes. A ocupação da Fazenda dona Hilda, em Quedas do Iguaçu, em março deste ano, desencadeou a ofensiva. O dono das terras denunciou o desaparecimento de cerca de 1.500 cabeças de gado e as investigações concluíram que uma parte do rebanho teria sido vendida por membros do MST.
"O MST não é bandido", diz membro da direção nacional
"Eles estão sendo acusados de formação de quadrilha e organização criminosa, ou seja, dois crimes que a Suprema Corte já disse que não podem ser aplicados ao movimento popular. O único crime que cometeram foi fazer a invasão do latifúndio improdutivo e a luta pela terra, nada mais do que isso", afirma João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST.
"O que nos preocupa mais é que a polícia não tinha o mandado judicial para entrar na escola. Eles fizeram literalmente uma invasão, com forte armamento, extremamente truculento, e atiraram dentro da escola, criando um pânico, uma situação generalizada", diz João Paulo.

"A nossa principal reivindicação nesse momento é que não vamos aceitar que a polícia civil de São Paulo possa fazer uma outra ação dessa natureza. Primeiro, o MST não é bandido, e segundo, não tem ninguém com mandado de prisão na nossa escola", observa Rodrigues, lamentando estar vivendo "um estado de exceção". Ele completa dizendo que a ofensiva policial foi um erro pois a pessoa procurada não é de São Paulo, e sim do Paraná.
Ver matéria completa: Brasil de Fato.
Monarquia sem rei
por Mino Carta — publicado 31/10/2016 05h36
Só assim se explica a agressão cometida contra o Brasil e os brasileiros. É como se a casa-grande decretasse: “O Estado sou eu”
Fabio Braga/Folhapress e Marcelo Camargo/ABr
Dom Paulo e Martins Filho, duas formas de interpretar a doutrina cristã. Mas Cristo está com seu cardeal
O franciscano dom Paulo Evaristo é um exemplo de sabedoria e destemor. Na segunda  24 foi homenageado por seus 95 anos no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, com participação de figuras ilustres e um público pronto ao grito de “fora Temer”. Nos tempos da ditadura, debaixo da batina, dom Paulo vestia uma armadura. Hoje faz muita falta.

O desafio à ditadura do então cardeal arcebispo paulista é uma página histórica que convém ler e reler. Hoje vivemos uma situação ainda pior e a respeito tenho conversado constantemente com os meus botões, para concluir que o Estado de exceção em que mergulhamos é algo assim como uma monarquia por direito divino, embora sem rei.

Em lugar do soberano, uma entidade superior por obra de uma teologia específica, dissociada de qualquer referência contemporânea, a não ser na aplicação fervorosa do neoliberalismo, a ser entendido, na minha visão, como neoliberismo. Permito-me sustentar que o neoliberalismo é também monárquico no sentido medieval.

Dom João VI, o rei de Portugal que jamais tomou banho, ao aportar no Brasil nos começos do século XIX, antecipou esse desfecho ao longo de um enredo desenrolado por mais de 200 anos. Fugia do exército napoleô­nico, que chegava para difundir as ideias da Revolução Francesa e, segundo os meus botões, não somente deu a saída do entrecho, mas também cuidou de estabelecer, quem sabe sem se dar conta, o seu propósito central. Ou seja, manter respeitoso e definitivo distanciamento de ideais renovadores.

Chamo esta entidade monárquica de casa-grande, a qual permanece rigorosamente impermeável a veleidades progressistas. E acaba de dizer, em tom de edito: “O Estado sou eu”. Houve a notável tentativa do governo Lula, e agora soçobra. O golpe de 1964 entrega o Brasil à ditadura.

O golpe de 2016 entrega-o a uma espécie de monarquia. Não há outra forma de perceber a prepotência, a arrogância, a desfaçatez de um poder que tudo se permite, impunemente, diante de um povo resignado, conforme manda a regra da senzala. 
O que mais há de inquietar dom Paulo nesta moldura em que a tragédia sobrepuja a farsa? A agressão das reformas do governo a serviço da casa-grande contra o próprio ser humano, no individual e no coletivo.
Contra o trabalhador, contra os estudantes e seus mestres, contra os desvalidos em geral. É tudo o que contraria e ofende a doutrina cristã da igualdade, na contramão do pensamento do papa, um jesuíta chamado Francisco. Mas seria Cristo um comunista?

Ver matéria completa: Carta Capital.

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