Oposição apresenta quatro propostas alternativas à
PEC 55
Foram apresentados três projetos de lei e uma PEC que vão na contramão
da solução fiscal sugerida pelo governo Temer
Mariana Jungmann
Agência Brasil, 09 de Novembro de 2016
Senadores
Gleisi Hoffmann, Roberto Requião e Lindbergh Farias estão à frente da oposição
/ Jefferson Rudy/ Agência Senado
A oposição no Senado apresentou hoje (8) quatro proposições legislativas
como alternativas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55. Foram
apresentados três projetos de lei e uma PEC que vão na contramão da solução
fiscal sugerida pelo governo Michel Temer até o momento.
A PEC da oposição é um substitutivo à PEC 55 e será apresentada como uma
alternativa ao texto, que deverá ser votado amanhã (9) na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ). O texto apresentado pela oposição sugere, entre
outras coisas, um prazo máximo de prevalência das medidas fiscais compatível
com o do Plano Plurianual (PPA), que tem validade de quatro anos. A PEC 55
prevê o teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos.
Além disso, o substitutivo prevê a irredutibilidade do gasto social per
capita, ou seja, que os gastos do governo sejam condizentes com o crescimento
populacional. A oposição alega que o congelamento de gastos pelos próximos 20
anos vai representar um retrocesso nesse aspecto, porque a população está em
expansão no Brasil.
O texto prevê ainda a garantia do aumento real do salário mínimo sempre
que houver crescimento econômico. Atualmente há lei prevendo isso, mas a
oposição quer constitucionalizar o aumento do mínimo para garantir que esse
direito não seja revogado e que a política monetária e cambial esteja
comprometida com o crescimento econômico e a geração de empregos.
“E tem mais: qualquer alteração que reduza direitos previstos nesse
título deve ser submetido a referendo. Nós colocamos na Constituição a questão
do referendo”, explicou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Segundo ele, o
objetivo do substitutivo é fazer “uma disputa em cima desses pontos” e a
oposição espera “sensibilizar uma parte dos senadores” na CCJ durante a votação
da PEC 55.
O substitutivo é de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR) em
conjunto com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Requião disse, ao apresentar o
substitutivo, que não se trata de “uma proposta petista”, uma vez que ele é do
PMDB.
“É uma proposta negociada e conversada com economistas nacionalistas e
com sensibilidade social e nós chegamos à conclusão de que a PEC 55 é uma
tolice absoluta, uma bobagem monumental e se destina ideologicamente a acabar
com o Estado Social”, disse Requião.
Projetos de lei
Além do substitutivo à PEC 55, os oposicionistas também apresentaram
três projetos de lei. O primeiro deles estabelece uma nova regra para a
política fiscal, alterando a Lei de Responsabilidade Fiscal para determinar que
as metas apresentadas pelo governo sejam ajustadas de acordo com o ciclo
econômico. Isso evitaria que medidas de ajuste de um governo afetassem outros
governos posteriores, impedindo a adoção de medidas anticíclicas em caso de
recessão econômica.
O segundo projeto prevê a taxação de lucros e dividendos. De acordo com
Lindbergh, o projeto combina aumento de arrecadação com justiça fiscal, porque
prevê a taxação das pessoas mais ricas. “Há um debate que não está sendo feito
que é: quem está pagando a conta da crise? Não tem nada para o andar de cima.
Então queremos a taxação de lucros e dividendos”, diz Lindbergh.
O terceiro projeto prevê o que os oposicionistas chamam de “duplo
mandato do Banco Central”. A ideia é estabelecer que, além de cuidar da
estabilidade monetária e do câmbio, o BC também seja obrigado, por lei, a
atrelar isso à geração de empregos, aumento de renda e crescimento econômico.
“Disso eles não falam. Ninguém fala em controlar as despesas financeiras do
país, só as despesas primárias. Nós estamos gastando mais de R$ 500 bilhões
anuais em juros”, diz o senador.
Os projetos de lei seguem a tramitação normal do Senado.
Transcrito do Brasil de Fato.
“A dívida pública é um mega
esquema de corrupção institucionalizado” II
Entrevista -
Maria Lucia Fattorelli - Carta Capital
Nilson Bastian / Câmara dos Deputados
Maria Lucia Fattorelli já auditou
a dívida pública do Equador e agora faz o mesmo pela Grécia.
CC: Qual é a relação entre os juros da dívida pública e o ajuste
fiscal, em curso hoje no Brasil?
MLF: Todo mundo fala no corte, no ajuste, na austeridade e tal. Desde o
Plano Real, o Brasil produz superávit primário todo ano. Tem ano que produz
mais alto, tem ano que produz mais baixo. Mas todo ano tem superávit primário.
O que quer dizer isso, superávit primário? Que os gastos primários estão abaixo
das receitas primárias. Gastos primários
são todos os gastos, com exceção da dívida. É o que o Brasil gasta: saúde,
educação...exceto juros. Tudo isso são gastos primários. Se você olhar a
receita, o que alimenta o orçamento? Basicamente a receita de tributos. Então
superávit primário significa que o que nós estamos arrecadando com tributos
está acima do que estamos gastando, estão está sobrando uma parte.
CC: E esse dinheiro que sobra é para pagar os juros dívida pública?
MLF: Isso, e essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. Quando você contrata dívida para pagar juros, o que você está fazendo? Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. Quando nós investigamos qual é a contrapartida da dívida interna, percebemos que é uma dívida de juros sobre juros. A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juros vai virar capital. E, sobre aquele capital, vai incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.
MLF: Isso, e essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. Quando você contrata dívida para pagar juros, o que você está fazendo? Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. Quando nós investigamos qual é a contrapartida da dívida interna, percebemos que é uma dívida de juros sobre juros. A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juros vai virar capital. E, sobre aquele capital, vai incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.
MLF: Por que o mercado – quando eu falo em mercado, estou me referindo
aos dealers – está aceitando novos títulos da dívida como
pagamento em vez de receber dinheiro moeda? Eles não querem receber dinheiro
moeda, eles querem novos títulos, por dois motivos. Por um lado, o mercado sabe
que o juros vão virar novo título e ele vai ter um volume cada vez maior de
dívidas para receber. Segundo: dívida elevada tem justificado um continuo
processo de privatização. Como tem sido esse processo? Entrega de patrimônio
cada vez mais estratégico, cada vez mais lucrativo. Nós vimos há pouco tempo a
privatização de aeroportos. Não é pouca coisa os aeroportos de Brasília, de São
Paulo e do Rio de Janeiro estarem em mãos privadas. O que no fundo esse poder
econômico mundial deseja é patrimônio e controle. A estratégia do sistema da
dívida é a seguinte: você cria uma dívida e essa dívida torna o pais submisso.
O país vai entregar patrimônio atrás de patrimônio. Assim nós já perdemos as
telefônicas, as empresas de energia elétrica, as hidrelétricas, as
siderúrgicas. Tudo isso passou para propriedade desse grande poder econômico
mundial. E como é que eles [dealers] conseguem esse poder todo? Aí entra
o financiamento privado de campanha. É só você entrar no site do TSE [Tribunal
Superior Eleitoral] e dar uma olhada em quem financiou a campanha desses caras.
Ou foi grande empresa ou foi banco. O nosso ataque em relação à dívida é porque
a dívida é o ponto central, é a espinha dorsal do esquema.
CC: Como funcionaria a auditoria da dívida na prática? Como diferenciar
o que é dívida legítima e o que não é?
MLF: A auditoria é para identificar o esquema de geração de dívida sem
contrapartida. Por exemplo, só deveria ser paga aquela dívida que preenche o
requisito da definição de dívida. O que é uma dívida? Se eu disser para você:
‘Me paga os 100 reais que você me deve’. Você vai falar: “Que dia você me
entregou esses 100 reais?’ Só existe dívida se há uma entrega. Aconteceu isso
aqui na Grécia. Mecanismos financeiros, coisas que não tinham nada ver com
dívida, tudo foi empurrado para as estatísticas da dívida. Tudo quanto é
derivativo, tudo quanto é garantia do Estado, os tais CDS [Credit Default Swap
- espécie de seguro contra calotes], essa parafernália toda desse mundo
capitalista 'financeirizado'. Tudo isso, de uma hora para outra, pode virar
dívida pública. O que é a auditoria? É desmascarar o esquema. É mostrar o que
realmente é dívida e o que é essa farra do mercado financeiro, utilizando um
instrumento de endividamento público para desviar recursos e submeter o País ao
poder financeiro, impedindo o desenvolvimento socioeconômico
equilibrado. Junto com esses bancos estão as grandes corporações e eles
não têm escrúpulos. Nós temos que dar um basta nessa situação. E esse basta
virá da cidadania. Esse basta não virá da classe politica porque eles são
financiados por esse setor. Da elite, muito menos porque eles estão usufruindo
desse mecanismo. A solução só virá a partir de uma consciência generalizada da
sociedade, da maioria. É a maioria, os 99%, que está pagando essa conta. O
Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central] disse isso em depoimento na CPI
[Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida, em 2009, quando perguntado sobre
a influência das decisões do Banco Central na vida do povo. Ele respondeu: “Olha,
o Brasil foi desenhado para isso”. Cont.
Transcrito da Carta Capital.
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