domingo, 6 de novembro de 2016

III Encontro Mundial de Movimentos Populares com o Papa Francisco.

Stedile: "Não é só uma ofensiva da direita. É uma falha do velho estado burguês"
Para o coordenador nacional do MST, temos que pensar em outro tipo de estado e outras formas de democracia participativaGeraldina Colotti  - Il Manifesto | Itália, 04 de Novembro de 2016 às 15:51    Para participando do I Encontro Mundial de Movimentos Populares, em 2014 / Reprodução

Desde quarta-feira (2) até sábado, o Vaticano é cenário do III Encontro Mundial de Movimentos Populares com o Papa Francisco. Esta é a primeira vez que o encontro se realiza em Itália, congregando milhes de homens e mulheres de todo o mundo comprometidos com as lutas populares.
Em dialogo com Il Manifesto, de Italia, o dirigente do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), parabenizou o processo permanente de diálogo e destacou o papel fundamental do lidera da igreja católica na promoção de debates para construir coletivamente possíveis caminhos para afrontar a crise econômica, politico, social e ambiental contemporânea.
Confira a entrevista dada ao jornal Il Manifesto:
Il Manifesto - Qual é o objetivo do III Encontro dos Movimentos Populares?
João Pedro Stedile - Desde que Francisco assumiu o pontificado, ele manifestou de diversas formas a sua vontade de construiu junto aos movimentos populares, aos trabalhadores excluídos, aos povos tradicionais, indígenas, pessoas de todas as etnias e religiões. Com isso, temos construído um processo de permanente diálogo para analisar os dilemas da humanidade que afetam à maioria da população.

Realizamos um primeiro encontro em outubro do 2014. Depois daquele, teve uma tendência latino-americana. O segundo foi maior, em agosto do 2015, na Bolívia. E agora, continuamos com o terceiro, reunindo mais de 200 companheiros de todos os continentes.
Agora avançaremos para debater temas importantes para a humanidade que afetam a todos, como a democracia burguesa hipócrita, que nem respeita a vontade da população, a apropriação privada dos dos bens comuns da natureza, e os refugiado em todo o mundo.
Desse diálogo frutífero, sempre tiramos conclusões, sínteses coletivas, que aporta nos debates políticos das nossas bases sociais sobre os graves problemas que temos no mundo, e que, infelizmente, são os mesmos em todas as partes. Pensamos quais são as causas e o que devemos fazer para enfrentá-los.
O tema do meio ambiente é central. Se, no caso do Brasil, abre-se ainda mais as licenças para o agronegócio, por outro aumentam o número de ambientalistas e lutadores perseguidos e mortos…
Sim, no primeiro encontro tivemos a presença de Berta Cáceres, que entregou um longo documento ao Papa falando das agressões do capital ao meio ambiente e aos povos indígenas em toda América Central. Mas ela não participará deste encontro, porque foi assassinada. E tem outros ameaçados pelos empresários e os seus governos em diversos países, que não poderão estar presentes. Por isso, com certeza vamos debater com maior profundidade sobre os crimes ambientais que se repetem em todo o mundo.
E porque aumentaram? Porque no tempo de crise do capitalismo, as grande corporações aumentaram suas pressões sobre a apropriação rápida e privada dos bens da natureza, porque é a forma mais rápida de tirar lucros extraordinários, pela enorme diferença entre o custo da extração (valor de trabalho) e o preço de mercado, de bens que são raros. Neste sentido, no primeiro encontro já avançamos muito nas reflexões e a encíclica Laudato Si, recolhe essas reflexões comuns na doutrina cristã, mas também nas reflexões sobre o meio ambiente e os movimentos populares. Essa encíclica é o nosso principal instrumento de conscientização e debate em todo o mundo. Francisco conseguiu fazer uma síntese sobre os problemas, que nenhum pensador de esquerda tinha feito antes.


Ver matéria completa: Brasil de Fato.


"A corrupção não é um vício exclusivo da política", diz Papa Francisco

  Discurso do Papa na finalização do III Encontro Internacional dos Movimentos Populares no Vaticano.

Vaticano, 
Papa falou ao público composto de militantes dos movimentos populares de mais de 60 países / EPA
Na tarde deste sábado, o Papa Francisco participou na Sala Paulo VI da conclusão do III Encontro Mundial dos Movimentos Populares.
"Irmãs e irmãs, boa tarde!
Neste nosso terceiro encontro expressamos a mesma sede, a sede de justiça, o mesmo grito: terra, casa e trabalho para todos.
Agradeço os delegados que vieram das periferias urbanas, rurais e industriais dos cinco continentes, mais de 60 países, que vieram para discutir mais uma vez sobre como defender estes direitos que nos convocam. Obrigado aos Bispos que vieram para vos acompanhar. Obrigado aos milhares de italianos e europeus que se uniram hoje ao final deste encontro. Obrigado aos observadores e aos jovens comprometidos na vida pública que vieram com humildade escutar e aprender. Quanta esperança tenho nos jovens! Agradeço também ao Senhor Cardeal Turkson, pelo trabalho que fez no Dicastério; e gostaria também de recordar a contribuição do ex-Presidente José Mujica, que está presente.
No último encontro, na Bolívia, com maioria de latino-americanos, falamos da necessidade de uma mudança para que a vida seja digna, uma mudança de estruturas; além disto, de como vocês, os movimentos populares, são semeadores desta mudança, promotores de um processo em que convergem milhares de pequenas e grandes ações concatenadas em modo criativo, como em uma poesia; por isto quis vos chamar “poetas sociais”; e temos também elencado algumas tarefas imprescindíveis para caminhar em direção a uma alternativa humana diante da globalização da indiferença: 1. Colocar a economia à serviço dos povos; 2. Construir a paz e a justiça; 3. Defender a Mãe Terra.
Aquele dia, com a voz de uma “papeleira” e de um agricultor, foram leitos, na conclusão, os dez pontos de Santa Cruz de la Sierra, onde a palavra ‘mudança’ era repleta de grande conteúdo, era ligada às coisas fundamentais que vocês reivindicam: trabalho digno para aqueles que são excluídos do mercado de trabalho; terra para os agricultores e as populações indígenas; moradia para as famílias sem-teto; integração humana para os bairros populares; eliminação da discriminação, da violência contra as mulheres e das novas formas de escravidão; o fim de todas as guerras, do crime organizado e da repressão; liberdade de expressão e de comunicação democrática; ciência e tecnologia a serviço dos povos. Ouvimos também como vocês se comprometeram em abraçar um projeto de vida que rejeite o consumismo e recupere a solidariedade, o amor entre nós e o respeito pela natureza como valores essenciais. É a felicidade de “viver bem” aquilo que vocês reclamam, a “vida boa”, e não aquele ideal egoísta que enganosamente inverte as palavras e propõe a “bela vida”.
Nós que hoje estamos aqui, de origens, crenças e ideias diferentes, poderíamos não estar de acordo com tudo, seguramente pensamos diversamente sobre muitas coisas, porém certamente estamos de acordo sobre estes pontos.
Soube também de encontros e laboratórios realizados em diversos países, onde se multiplicaram os debates à luz da realidade de cada comunidade. Isto é muito importante porque as soluções reais para as problemáticas atuais não sairão de uma, três ou mil conferências: devem ser fruto de um discernimento coletivo que amadureça nos territórios junto com os irmãos, um discernimento que se torne ação transformadora “segundo os lugares, os tempos e as pessoas”, como dizia Santo Inácio. Caso contrário, corremos o risco das abstrações, de “certos nominalismos declaracionistas que são belas frases, mas que não conseguem sustentar a vida de nossas comunidades” (Carta ao Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, 19 de março de 2016). São slogans. O colonialismo ideológico globalizante procura impor receitas supra culturais que não respeitam a identidade dos povos. Vocês seguem por um caminho que é, ao mesmo tempo, local e universal. Um caminho que me recorda como Jesus pediu para organizar a multidão em grupos de cinquenta para distribuir o pão.
Ver matéria completa: Brasil de Fato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário