Ato destacou que valores que envolvem a prática esportiva foram violados
na preparação para as olimpíadas
Gilka Resende e Thiago Mendes, do Coletivo de Comunicação da Jornada de
Lutas Rio 2016 - Os Jogos da Exclusão
Rio de Janeiro (RJ), 03 de Agosto
de 2016.
Eneida Freire e dois jovens atletas que não têm
onde treinar na “cidade olímpica”. / Rosilene Miliotti / FASE
Entre os que se abrigavam
da chuva em uma marquise no Centro do Rio de Janeiro, estava Eneida Freire,
mulher que dedica sua vida, desde os 14 anos, ao atletismo. Ela, assim como as
cerca de 50 pessoas que participaram da Marcha dos Atletas pelo Direito ao
Esporte e à Cidade, na noite dessa terça-feira (2), estavam encharcados. Nem
por isso deixaram de caminhar do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
(IFCS), no Largo de São Francisco, costurando ruas até chegarem às escadarias
da Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, no Centro do Rio. Questionada sobre o que
a cidade tem de olímpica, Eneida é direta: “Nada! Atletas
levaram 10 anos para conseguir índices olímpicos. Mas não foram
premiados, foram punidos. Conheço pelo menos cinco que tinham condição de estar
nos jogos porque foram obrigados a deixaram de onde treinar”, conta Eneida sem
conter o choro.
Com apitos e faixas, os manifestantes da atividade, que integra a
Jornada de Lutas Rio 2016 — Os Jogos da Exclusão, chamaram atenção para
violações de direitos com gritos como “não vai ter tocha” e “olimpíada”,
denunciando a “privatização da cidade” e o o fato de “equipamentos públicos
esportivos estarem fechados ou sucateados”. O estádio a que Eneida se refere,
por exemplo, não funciona desde a Copa das Confederações, em 2013. Por lá,
passavam cerca de 800 pessoas todos os dias, entre crianças de programas
sociais, atletas olímpicos, paralímpicos e amadores, que dividiam em oito
raias. Somente Edneida treinava cerca de 80 crianças. “Ele era o único
equipamento social e público e, nesse momento, poderia ajudar nas olimpíadas.
Mas estamos na rua. Sem o Estádio, as equipes internacionais estão treinando em
outros estados, como São Paulo e Minas Gerais”, relata ela, que diz se sentir
uma “atleta sem-teto”.
“Esses meninos amam o atletismo. Sabe qual é o sonho deles? É o mesmo da
maioria dos atletas no Brasil. Serem atletas olímpicos! Mas essa situação de
abandono do esporte prejudica. O estádio era a primeira ou mesmo a última porta
de entrada para muitas crianças. Agora, elas têm apenas praças e parques para
treinarem, onde faltam até banheiros. É mais complicado treinar na rua. Você
lança um dardo e ele fica preso na árvore. Certa vez um peso foi arremessado e
entrou num buraco com lama, nunca mais saiu de lá”, detalha a educadora, que já
foi campeã brasileira de pentatlo, modalidade desportiva composta por cinco
provas, no próprio Célio de Barros.
Ver matéria na íntegra: Brasil de
Fato.
Em artigo publicado na terça (2), a revista americana "Time" fala sobre o “esquecido legado” da escravidão que obscurece a Olimpíada. O texto conta como mais de 2 milhões de negros trazidos da África como escravos desembarcaram no Rio de Janeiro e como a cidade, que teve um dos maiores portos de movimentação de escravos no mundo, foi influenciada por isso.
O artigo faz ainda uma conexão com a violência policial aos negros, ao
lembrar que em 1809 foi formada a Divisão Militar da Guarda da Polícia Real,
uma percussora da atual Polícia Militar, e que era famosa pelos espancamentos
públicos de escravos.
Ele também lembra que a primeira favela carioca, no Morro da
Previdência, surgiu em 1897 com a concentração de uma comunidade de ex-escravos
e veteranos de uma recente guerra civil, todos muito pobres para se
estabelecerem longe do porto e mais perto do centro. Também naquela região, na
Pedra do Sal, aos pés de uma rocha de onde escravos descarregavam sal, teria
origem a variante carioca do samba.
A revista fala ainda sobre a divisão que se manteve mesmo após o fim da
escravidão e sobre os temores de que obras de regeneração da região poderiam
descaracterizar a herança cultural dos negros.
Além disso, destaca que em 2014 o dono de um hotel no Rio de Janeiro foi
acusado de manter funcionários em “condições análogas à escravidão”, o que cita
como um caso típico na luta do Brasil contra a escravidão moderna. Brasil de Fato
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