A austeridade seletiva da
PEC 55 e da reforma da Previdência
por Carlos Drummond — publicado 14/12/2016
05h21, última modificação 14/12/2016 17h25
As propostas do governo para
aposentadoria e os gastos fustigam os pobres, mas deixam os rentistas a salvo.
Mais
trabalho, renda menor. Assim será o futuro
A política de austeridade defendida pelo governo como única
alternativa para recuperar a economia, concentrada nas Propostas de Emenda
Constitucional 55, do Teto de Gastos, e 287, da Reforma da Previdência,
sacrifica os pobres e protege os rentistas, apontam economistas. A escolha
ignora opções menos danosas à sociedade adotadas no Brasil e no resto do mundo.
A PEC 287, encaminhada ao Congresso na terça-feira 6, completa a
exclusão das parcelas mais vulneráveis da população pela PEC 55. A proposta eleva
a idade mínima de aposentadoria dos trabalhadores
para 65 anos, o tempo mínimo de contribuição a 25 anos e condiciona o benefício
máximo integral a 49 anos de recolhimento, entre outros dispositivos.
“Foi feita para pouquíssimos acessarem o benefício. A maioria
contribuirá e não usufruirá. Estender de dez para 25 anos o tempo de
contribuição exigido para se aposentar e condicionar a aposentadoria integral a
49 anos de contribuições é abusivo”, define a economista Denise Gentil, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
No futuro, diz, os brasileiros viverão menos, pois suas vidas serão mais
precárias. Na melhor situação, não mais ganharão a média só dos salários mais
altos, mas da totalidade dos proventos e isso reduzirá a 76% a aposentadoria
integral atual. Terão pior saúde e maior
deterioração nas suas capacidades de trabalho, por permanecerem em atividade
durante um período mais longo.
Contribuirão por mais tempo e usufruirão por um intervalo mais curto. “A
aposta do governo Michel Temer é de que poucos se aposentarão e, desses,
pouquíssimos viverão por algum tempo usufruindo o benefício.”
Além de encaminhar a PEC 287, o Executivo, diante de pressões pela
queda mais rápida dos juros e boatos de substituição da cúpula da área
econômica, acenou com medidas vistas até por economistas conservadores como
meros paliativos para a crise.
As medidas são a retirada de obstáculos aos investimentos, a utilização
de bancos públicos na renegociação de dívidas e o direcionamento do crédito
para a habitação. Baixar os juros seria mais eficaz para estimular a produção,
a criação de empregos e o aumento das contribuições à Previdência, mas reduz os
lucros dos rentistas credores da dívida pública.
“A austeridade no País é seletiva, vale só para os trabalhadores,
funcionários e aposentados, obrigados a pagar a conta. Poupa os rentistas, pois
está fora de questão baixar significativamente os juros que remuneram os
credores da dívida pública e demais aplicações financeiras. Preserva também os
empresários, dispensados de devolver as isenções tributárias”, acusa o
economista Pedro Cezar Dutra Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
“Os rentistas receiam que o aumento dos gastos sociais e do déficit
torne o Estado inadimplente no longo prazo e querem ter certeza de que
receberão seus rendimentos. Os cortes mostram que, daqui a 10 ou 20 anos, o
governo conseguirá honrar o que hoje pede emprestado ao mercado financeiro.”
(...)
Ver matéria completa Carta Capital
Minas GERAIS
Servidores comemoraram votação na Câmara, que não levou em conta texto que cortaria benefícios
PUBLICADO EM 21/12/16 - 03h00 -Luciene Câmara.
O
risco de greve das polícias Civil e Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros, às
vésperas do Natal, está eliminado em Minas Gerais. Por volta das 16h dessa
terça-feira (20), depois de um dia de manifestação de ao menos 15 mil
servidores em Belo Horizonte, todos retomaram a rotina com sentimento de
vitória. O Projeto de Lei Complementar (PLP) 257, que trata da renegociação da
dívida dos Estados, foi aprovado na Câmara dos Deputados, em Brasília, do jeito
que as categorias queriam: sem as condicionantes que representavam cortes de
benefícios para trabalhadores do setor público.(...)
Após vitória na Câmara, a orientação, segundo Bahia, era que todos
voltassem às atividades. “Mostramos nossa força diante dessa injustiça. Os
servidores não têm que pagar por má administração do governo”, disse.
Quem também comemorou foi Oliveira: “foi uma grande conquista para
toda a sociedade. Não vão mais colocar o custo da dívida dos Estados nas costas
dos servidores”. (Com Aline Diniz e Letícia
Fontes/Especiais para O TEMPO)
Abrangência. Segundo
a Anaspra, policiais militares se mobilizaram contra o PLP 257 em outros
Estados, mas o movimento teve força maior em Minas. Além da capital, houve
manifesto também em Montes Claros, no Norte.
PLP 257. O
Projeto de Lei Complementar 257/2016, do Executivo, estabelece critérios para a
renegociação das dívidas dos Estados com a União.
Condicionantes. O texto que estabelecia cortes de
benefícios para os servidores públicos foi inserido no PLP na sua fase de
aprovação no Senado. Segundo a Anaspra, entre as medidas contestadas pelos
trabalhadores e retiradas nessa terça-feira (20) na Câmara estavam a obrigatoriedade
de o Estado alterar o valor da contribuição previdenciária de 11% para o mínimo
de 14%, criar uma previdência complementar e, por um período de até seis anos,
não reajustar os salários nem conceder benefícios e vantagens, como
remunerações por desempenho, além de não realizar novas contratações nem
concursos públicos.
Sanção. Após aprovação, a proposta segue para
a sanção do presidente Michel Temer. Para aderir, os Estados não poderão ter
aumento das despesas em montante superior à variação da inflação acumulada em
12 meses até junho.
Governador recebe chefe da Polícia Civil
Assim como fez com a Polícia Militar nessa
segunda-feira (19), o governador Fernando Pimentel se reuniu nessa terça-feira
(20) com integrantes do Conselho Superior da Polícia Civil para manifestar
posição contrária às medidas que estavam previstas no Projeto de Lei
Complementar 257. Para Pimentel, as condicionantes, como a proibição de
reajuste salarial, aprofundariam a crise.
O chefe adjunto da Polícia Civil, Raimundo Nonato Gonçalves, entregou documento
pedindo apoio às questões que preocupam a corporação.
Ver matéria completa no jornal O Tempo.
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