Diversidade musical deu o tom da mostra de música do rap à moda de
viola, do baião à canções de influência indígena
José Eduardo
Bernardes
Belo Horizonte (MG), 24 de Julho de 2016 - Brasil de Fato.
Festival conseguiu aliar diversidade e qualidade
nas apresentações / Elitiel Guedes
"O festival demonstra que a Reforma Agrária vai para além da
distribuição de terra. Nós também lutamos pela distribuição do conhecimento, da
arte, da cultura. O Sem Terra produz muita cultura, em diversas áreas, que vão
desde as artes plásticas, a poesia, a música, várias outras formas de se
expressar artisticamente”, afirma Marcos Pertaqui, intérprete de uma das
canções apresentadas durante o Festival Nacional de Artes e Cultura da Reforma
Agrária, em Belo Horizonte.(...)
Marcos é do acampamento Primeiro do Sul, em Campo do Meio, no estado de
Minas Gerais. Para o músico, "a canção pode ter a capacidade de traduzir
para o povo brasileiro uma coisa que um discurso político em cima de um
carro de som não teria a capacidade de atingir. Ela consegue chegar nos
lares, em todos os lugares. E quando você transforma essa expressão artística
em uma arte engajada, você consegue levar essa mensagem de transformação”.
“A arte, a cultura e a política não são coisas
separadas, elas estão sempre juntas”, ressalta Bruna Gavino, do Levante Popular
da Juventude de Minas Gerais, uma das mais aclamadas pelo público presente à
Serraria. Ela lembra, porém, que mais importante que ter sua música
reconhecida é “ver a galera da cultura pautando a política.
“E a minha música não é só minha. Fiquei duas semanas tentando escrever
essa música e saíram só três frases. Ai, no meio do nosso acampamento estadual
aqui de Minas Gerais, com todo aquele clima, com toda aquela gente, ela saiu em
10 minutos”, comenta Bruna.
(...)
“É muito forte, eu estou bastante emocionada de ver que esse Festival
recebeu minha música, assim, de primeira, porque foi justamente a terra que me
inspirou a fazê-la. Essa terra que fecunda memórias, que fecunda sabedorias,
uma terra fértil. E eu acho que essa música tem tudo a ver com a luta em si,
justamente porque o nome dela, "Fecunda-Ação", mostra que toda ação
pode mudar o mundo”, aponta.
Anita já tem dois EP`s
(álbuns compactos, geralmente uma amostras do trabalho do artista) gravados,
mas não se sente confortável em embarcar na roda da indústria cultural. “Eu
toco muito na rua, sou cantora de rua, morei no México e tirei muita grana
tocando na rua mesmo. Eu acredito que a música não tem dono, a música é a mais
libertária das deusas e eu acho que se ela está aqui, ela está para gritar”(...)
Para o arranjador, o Festival cumpre um papel importante ao unir a
agricultura - um dos pilares do Movimento Sem Terra - e a cultura: “Elas têm a
mesma raiz, são irmãs gêmeas”, disse. “Nós músicos somos artesãos também. Assim
como o lavrador planta o grão, espera a plantinha crescer, reza para chover,
reza para parar de chover, a gente também acompanha esse processo na nossa
arte. Ela não funciona como uma esteira de produção, desde a criação da
música, até a gravação, somos nós que acompanhamos todo o processo”, completa.
Crédito: Brasil de Fato.
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