sábado, 11 de março de 2017

GREVE NACIONAL



Mais de um milhão de professores preparam greve contra a reforma da Previdência.
Paralisação está marcada para 15/03; Estratégia é pressionar deputados para votarem contra mudanças na aposentadoria
Pedro Rafael Vilela

Brasil de Fato | Brasília (DF), 10 de Março de 2017  A paralisação vai durar inicialmente 10 dias e, no dia 25 de março, o movimento vai avaliar a continuidade das mobilizações / CNTE

"A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) espera a adesão de mais de um milhão de professores e profissionais da rede pública de ensino na greve nacional que será deflagrada na quarta-feira (15). A paralisação, que vai atingir todos os estados do país, inaugura um calendário intenso de mobilizações envolvendo centrais sindicais e movimentos populares contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 287/2016, que muda as regras da aposentadoria no país."
"Apresentada ao Congresso Nacional pelo governo Temer, a medida estabelece idade mínima de 65 anos para homens e mulheres poderem se aposentar e ainda exige contribuição de 49 anos para que o trabalhador possa receber o valor integral do salário. Alguns benefícios também poderão ser desvinculados do salário mínimo, diminuindo o valor da aposentadoria ao longo do tempo."
"Todas as 48 entidades filiadas à CNTE, que incluem sindicatos municipais e estaduais de professores, aprovaram a convocação da greve geral da categoria. A paralisação vai durar inicialmente 10 dias e, no dia 25 de março, o movimento vai avaliar a continuidade das mobilizações."
Segundo Heleno Araújo, presidente da confederação, o movimento sindical e social como um todo, incluindo as maiores centrais e as frentes Brasil Popular (FBP) e Povo Sem Medo (FPSM), também promoverão atos contra a reforma da Previdência no dia 15.
“A meta é barrar essa reforma. Existe escola pública em cada bairro de cada município desse país. Vamos dialogar diretamente com a comunidade explicando a gravidade das mudanças que estão sendo propostas. Não tem final de semana nem feriado, estamos em uma verdadeira campanha, mas, dessa vez, para evitar um grave retrocesso”, explica.
"Uma das principais ações locais durante a greve é pressionar as bases eleitorais de deputados que são a favor da reforma. A tática já tem surtido efeito, explica Heleno Araújo. Na semana passada, uma liminar obtida pelo deputado federal Heitor Schuch (PSB-RS) chegou a proibir a CUT do Rio Grande do Sul de distribuir um jornal especial sobre a reforma da Previdência. Uma das matérias estampava fotos de parlamentares do estado que apoiavam a medida. A censura acabou sendo derrubada posteriormente na Justiça."

“Esse caso mostra que os deputados, quando têm sua posição política contra o povo exposta na mídia, entram em pânico. Nós vamos expor todos eles”, promete Heleno Araújo, que acredita que o governo não terá os 308 votos necessários na Câmara dos Deputados para aprovar a PEC. A proposta, se passar na Câmara, ainda depende do voto de 49 senadores, em dois turnos. O governo Temer sonha em ver a medida aprovada até julho.(...)
Edição: Vivian Fernandes

"Se reforma da Previdência fosse justa, valeria para políticos", critica Stedile
"Dirigente fala sobre impactos das mudanças na aposentadoria especialmente para os trabalhadores rurais".
Vívian Fernandes
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 11 de Março de 2017  
Em entrevista exclusiva, Stedile explica motivos pelos quais população deve resistir às mudanças na aposentadoria / Divulgação

"Alterar a idade mínima e o tempo de contribuição para a aposentadoria. Esses são alguns dos pontos da reforma da previdência promovida pelo governo de Michel Temer. A medida é polêmica pois mexe com a vida de trabalhadores da cidade e também com a dos trabalhadores rurais, principalmente das trabalhadoras rurais. Dessa forma ela vem sendo muito criticada por movimentos populares e por centrais sindicais."
"Para debater e entender melhor esse tema e outros da política nacional, Vívian Fernandes entrevistou João Pedro Stedile, que faz parte da direção nacional do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)."
"Brasil de Fato: O senhor poderia comentar a mudança da idade mínima para a aposentadoria, prevista nessa reforma da previdência? Se hoje existem diferenças na idade entre homens e mulheres e entre trabalhadores rurais e urbanos, com a reforma de Temer, todos teriam idade mínima de 65 anos para se aposentar. Então como essa mudança iria impactar a vida dos trabalhadores do campo?"

João Pedro Stedile: "Essa reforma do governo Temer é ilegítima. Esse governo não tem moral nenhuma para propor nenhuma reforma da Previdência, que é uma conquista dos trabalhadores brasileiros através da Constituinte de 1988 e espero que essas mudanças não tenham apoio, nem sequer dos deputados e partidos conservadores que apoiaram o golpe, tal a infâmia da sua natureza. Na verdade, ela representa uma crueldade contra todos os trabalhadores, porque tira o direito do sujeito se aposentar.
A lei atual foi uma conquista de muitos anos de luta e garante a aposentadoria para as mulheres aos 55 anos no campo pois tanto anto as mulheres como os homens na roça começam a trabalhar com oito ou dez anos, mas mesmo se começassem aos 14 anos. Aos 55 anos, a pessoa já trabalhou 40 anos."
"Em segundo lugar, o trabalho na agricultura é o segundo trabalho da história da humanidade que exige mais exercício, mais sacrifício humano. Só perde para a mineração, que a pessoa trabalha embaixo dos túneis e pega sol, chuva, está à mercê de todas as temperaturas. Isso desgasta muito a vida das pessoas e por isso que nós vamos continuar lutando para que todos se aposentem, as mulheres com 55 e os homens com 60."
"É uma besteira comparar todo mundo daqui pra frente, para se aposentar com 65 anos, tanto na cidade como no campo, o que exigiria as pessoas trabalharem 50 anos na agricultura, o que é uma vergonha. O que é mais ridículo, é que a maioria desses ministros e senadores do governo já se aposentaram com 48, 53 anos, e com aposentadorias acima de 10 mil reais. Se essa proposta de reforma da Previdência fosse justa, o primeiro artigo deveria ser assim:"  "Todos os políticos, daqui por diante, seguirão essas mesmas regras".
"Quais outras mudanças que essa reforma da previdência traria e que afetariam a vida de todos os trabalhadores, ou seja, porque que as pessoas deveriam ser contra a reforma da Previdência?"

"O segundo motivo grave é porque a reforma desvincula os benefícios da previdência do salário mínimo. Nos governos Lula e Dilma, o salário mínimo praticamente triplicou. Então, hoje, uma pessoa que está aposentada, ou que recebe auxílio-maternidade, recebe 990 reais. Com a reforma da Previdência, eles estão dizendo: o salário mínimo não é mais referência pros benefícios, tipo auxílio maternidade, auxílio doença e nem para a aposentadoria."
"E quem vai fixar esses benefícios vai ser o ministro da Fazenda, um burocrata que ninguém elegeu, e que, sentado em sua cadeira, faz as contas e diz: "Este ano o auxílio da Previdência vai ser R$ 500". Então, nós não podemos aceitar a desvinculação do salário mínimo porque, de fato, o salário mínimo, como está na lei desde o tempo de Getúlio Vargas e como está no seu conceito, é aquele mínimo que uma pessoa deveria receber para ter as mínimas condições de sobrevivência na nossa sociedade."
"E é por isso que nós dizemos que essa reforma da Previdência vai atingir justamente os mais pobres, aquele desvalido, que recebe por idade depois dos 70 anos, a mãe lá da roça que ganhou nenê e não pode mais ir pra roça, o cadeirante, que recebia uma ajuda e agora eles vão cortar tudo isso."
"Mas esse dinheiro é do povo brasileiro." (...)
Edição: Camila Maciel

https://www.brasildefato.com.br/2017/03/11/se-reforma-da-previdencia-fosse-justa-valeria-para-politicos-critica-stedile/

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