Mais de um milhão de professores preparam greve
contra a reforma da Previdência.
Paralisação está marcada para 15/03; Estratégia é pressionar deputados
para votarem contra mudanças na aposentadoria
Pedro Rafael Vilela
Brasil de Fato | Brasília (DF), 10 de Março
de 2017 A
paralisação vai durar inicialmente 10 dias e, no dia 25 de março, o movimento
vai avaliar a continuidade das mobilizações / CNTE
"A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) espera a
adesão de mais de um milhão de professores e profissionais da rede pública de
ensino na greve nacional que será deflagrada na quarta-feira (15). A
paralisação, que vai atingir todos os estados do país, inaugura um calendário
intenso de mobilizações envolvendo centrais sindicais e movimentos populares
contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 287/2016, que
muda as regras da aposentadoria no país."
"Apresentada ao Congresso Nacional pelo governo Temer, a medida
estabelece idade mínima de 65 anos para homens e mulheres poderem se aposentar
e ainda exige contribuição de 49 anos para que o trabalhador possa receber o
valor integral do salário. Alguns benefícios também poderão ser desvinculados
do salário mínimo, diminuindo o valor da aposentadoria ao longo do tempo."
"Todas as 48 entidades filiadas à CNTE, que incluem sindicatos municipais
e estaduais de professores, aprovaram a convocação da greve geral da categoria.
A paralisação vai durar inicialmente 10 dias e, no dia 25 de março, o movimento
vai avaliar a continuidade das mobilizações."
Segundo Heleno Araújo, presidente da confederação, o movimento sindical
e social como um todo, incluindo as maiores centrais e as frentes Brasil
Popular (FBP) e Povo Sem Medo (FPSM), também promoverão atos contra a reforma
da Previdência no dia 15.
“A meta é barrar essa reforma. Existe escola pública em cada bairro de
cada município desse país. Vamos dialogar diretamente com a comunidade
explicando a gravidade das mudanças que estão sendo propostas. Não tem final de
semana nem feriado, estamos em uma verdadeira campanha, mas, dessa vez, para
evitar um grave retrocesso”, explica.
"Uma das principais ações locais durante a greve é pressionar as bases
eleitorais de deputados que são a favor da reforma. A tática já tem surtido
efeito, explica Heleno Araújo. Na semana passada, uma liminar obtida pelo
deputado federal Heitor Schuch (PSB-RS) chegou a proibir a CUT do Rio Grande do
Sul de distribuir um jornal especial sobre a reforma da Previdência. Uma das
matérias estampava fotos de parlamentares do estado que apoiavam a medida. A
censura acabou sendo derrubada posteriormente na Justiça."
“Esse caso mostra que os deputados, quando têm sua posição política
contra o povo exposta na mídia, entram em pânico. Nós vamos expor todos eles”,
promete Heleno Araújo, que acredita que o governo não terá os 308 votos
necessários na Câmara dos Deputados para aprovar a PEC. A proposta, se passar
na Câmara, ainda depende do voto de 49 senadores, em dois turnos. O governo
Temer sonha em ver a medida aprovada até julho.(...)
Edição:
Vivian Fernandes
"Se reforma da Previdência fosse justa,
valeria para políticos", critica Stedile
"Dirigente fala sobre impactos das mudanças na aposentadoria
especialmente para os trabalhadores rurais".
Vívian Fernandes
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 11 de Março
de 2017
Em
entrevista exclusiva, Stedile explica motivos pelos quais população deve
resistir às mudanças na aposentadoria / Divulgação
"Alterar a idade mínima e o tempo de contribuição para a aposentadoria.
Esses são alguns dos pontos da reforma da previdência promovida pelo governo de
Michel Temer. A medida é polêmica pois mexe com a vida de trabalhadores da
cidade e também com a dos trabalhadores rurais, principalmente das trabalhadoras
rurais. Dessa forma ela vem sendo muito criticada por movimentos populares e
por centrais sindicais."
"Para debater e entender melhor esse tema e outros da política nacional,
Vívian Fernandes entrevistou João Pedro Stedile, que faz parte da direção
nacional do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)."
"Brasil de Fato: O senhor poderia comentar a mudança
da idade mínima para a aposentadoria, prevista nessa reforma da previdência? Se
hoje existem diferenças na idade entre homens e mulheres e entre trabalhadores
rurais e urbanos, com a reforma de Temer, todos teriam idade mínima de 65 anos
para se aposentar. Então como essa mudança iria impactar a vida dos
trabalhadores do campo?"
João Pedro Stedile: "Essa reforma do
governo Temer é ilegítima. Esse governo não tem moral nenhuma para propor
nenhuma reforma da Previdência, que é uma conquista dos trabalhadores
brasileiros através da Constituinte de 1988 e espero que essas mudanças não
tenham apoio, nem sequer dos deputados e partidos conservadores que apoiaram o
golpe, tal a infâmia da sua natureza. Na verdade, ela representa uma crueldade
contra todos os trabalhadores, porque tira o direito do sujeito se aposentar.
A lei atual foi uma conquista de muitos anos de luta e garante a
aposentadoria para as mulheres aos 55 anos no campo pois tanto anto as mulheres
como os homens na roça começam a trabalhar com oito ou dez anos, mas mesmo se
começassem aos 14 anos. Aos 55 anos, a pessoa já trabalhou 40 anos."
"Em segundo lugar, o trabalho na agricultura é o segundo trabalho da
história da humanidade que exige mais exercício, mais sacrifício humano. Só
perde para a mineração, que a pessoa trabalha embaixo dos túneis e pega sol,
chuva, está à mercê de todas as temperaturas. Isso desgasta muito a vida das
pessoas e por isso que nós vamos continuar lutando para que todos se aposentem,
as mulheres com 55 e os homens com 60."
"É uma besteira comparar todo mundo daqui pra frente, para se aposentar
com 65 anos, tanto na cidade como no campo, o que exigiria as pessoas
trabalharem 50 anos na agricultura, o que é uma vergonha. O que é mais
ridículo, é que a maioria desses ministros e senadores do governo já se
aposentaram com 48, 53 anos, e com aposentadorias acima de 10 mil reais. Se
essa proposta de reforma da Previdência fosse justa, o primeiro artigo deveria
ser assim:" "Todos os políticos, daqui por diante, seguirão essas mesmas
regras".
"Quais outras mudanças que essa reforma da
previdência traria e que afetariam a vida de todos os trabalhadores, ou seja,
porque que as pessoas deveriam ser contra a reforma da Previdência?"
"O segundo motivo grave é porque a reforma desvincula os benefícios da
previdência do salário mínimo. Nos governos Lula e Dilma, o salário mínimo
praticamente triplicou. Então, hoje, uma pessoa que está aposentada, ou que
recebe auxílio-maternidade, recebe 990 reais. Com a reforma da Previdência,
eles estão dizendo: o salário mínimo não é mais referência pros benefícios,
tipo auxílio maternidade, auxílio doença e nem para a aposentadoria."
"E quem vai fixar esses benefícios vai ser o ministro da Fazenda, um
burocrata que ninguém elegeu, e que, sentado em sua cadeira, faz as contas e
diz: "Este ano o auxílio da Previdência vai ser R$ 500". Então, nós
não podemos aceitar a desvinculação do salário mínimo porque, de fato, o
salário mínimo, como está na lei desde o tempo de Getúlio Vargas e como está no
seu conceito, é aquele mínimo que uma pessoa deveria receber para ter as
mínimas condições de sobrevivência na nossa sociedade."
"E é por isso que nós dizemos que essa reforma da Previdência vai atingir
justamente os mais pobres, aquele desvalido, que recebe por idade depois dos 70
anos, a mãe lá da roça que ganhou nenê e não pode mais ir pra roça, o
cadeirante, que recebia uma ajuda e agora eles vão cortar tudo isso."
"Mas esse dinheiro é do povo brasileiro." (...)
Edição: Camila Maciel
https://www.brasildefato.com.br/2017/03/11/se-reforma-da-previdencia-fosse-justa-valeria-para-politicos-critica-stedile/
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