Policial morto na Rocinha ‘queria mudar o mundo’: ‘Estado
vê PMs como descartáveis’
Por BBC
23/03/2018
18h21
O
policial Mesquita tentava se aproximar dos moradores, inclusive as crianças
(Foto: Reprodução)
"O soldado
Filipe de Mesquita sonhava desde criança em ser policial militar, inspirado
pelo exemplo do pai. "Ele era muito do bem. Tinha essa ideia de mudar o
mundo", contou à BBC Brasil a designer Letícia Miranda, amiga de infância
e vizinha do policial que trabalhava na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)
da Rocinha."
"Segundo
Letícia, o melhor amigo tentava se aproximar dos moradores da Rocinha, para
explicar que não tinha a intenção de ferir. "O Filipe tirava bastante foto
na comunidade, com as crianças. Ele sempre chegava falando que era gratificante
uma criança chegar em você e dizer 'obrigada, você está protegendo a minha
familia'", conta."
Mas, na
quarta, os planos do jovem policial acabaram com um tiro. Num confronto com
traficantres, na favela da Rocinha, ele foi baleado. Chegou a ser socorrido,
mas não resistiu.
Filipe
Mesquita passou a engrossar a longa lista de policiais mortos - 29 só neste ano
e 134 em 2017, segundo dados repassados à BBC Brasil pela PM do RJ. "É um
número fora do comum, mas não é inédito. Infelizmente, em outras oportunidades,
já perdemos até mais policias num mesmo dia", disse à BBC Brasil o major
Ivan Blaz, porta-voz da PM do RJ.
Operação nem sempre envolve fuzil
"Alguns
meses antes de "virar estatística", Filipe Mesquita viveu um breve
momento de "fama". Estampou a capa de um jornal local que falava de
uma operação policial na Rocinha."
Mesquita
queria ser policial desde criança e se emocionava com o carinho das crianças na
comunidade (Foto: Reprodução redes sociais)
"Ele
vinha chegando à nossa rua e eu disse: 'Você tá famoso, ein?'. Ele não tinha
visto o jornal. Quando viu começou a chorar e disse: 'Meu sonho era aparecer
assim, vestindo a farda. Vou pegar esse jornal para mim e colocar na
parede'", relatou Letícia.
Mas uma
das operações da qual Filipe Mesquita mais se orgulhava não envolveu armas nem
confronto com traficantes. Foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo
o bebê antes de chegar ao hospital.
"Hoje
tive uma das melhores sensações da minha vida. Pude socorrer uma mulher em
pleno trabalho de parto. Ela só falava que a gravidez era de risco. A bebê
tinha sopro no coração. Imediatamente colocamos ela na viatura e fomos em
direção ao Miguel Couto, quando avistamos uma ambulância", postou no
Facebook.
Uma das operações da qual Mesquita mais se orgulhava foi o socorro a uma mulher grávida que acabou tendo o bebê antes de chegar ao hospital (Foto: Reprodução)
Outros dois mortos no mesmo dia
“Além de
Filipe Mesquita, outros dois policiais foram assassinados no mesmo dia, num
intervalo de 12 horas. O sargento Maurício Chagas Barros morreu durante troca
de tiros com criminosos no Gogó da Ema, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. Já
o cabo Luciano Coelho foi morto a tiros durante um assalto dentro de um loja de
departamentos no Centro de Cabo Frio, na Região dos Lagos.”
"Como
será o meu dia amanhã? Enterrar um filho muito querido vítima da violência do
Rio", escreveu Geraldino da Silva Barros, pai de Maurício, no Facebook,
quando soube da notícia.(...)
Meses antes, o policial havia feito uma homenagem no
aniversário do pai.
"Pai,
eu não poderia deixar de, no dia de hoje, lhe prestar está justa homenagem.
Todos os dias agradeço a Deus pela benção que é o privilégio de ser seu filho,
te amo e espero ser um dia um pai tão zeloso e exemplar quanto és para
mim", escreveu Maurício Barros, numa foto ao lado do pai publicada na rede
social."
"Os três
PMs que morreram num intervalo de 12 horas têm nome, pais, filhos, amigos e
histórias. Mas, na visão do presidente Associação de Oficiais Militares
Estaduais do Rio de Janeiro (AME/RJ), coronel da reserva Carlos Fernando
Ferreira Belo, são vistos pelo Estado e por parte da sociedade apenas como
números, juntamente com os outros 134 policiais assassinados em 2017."
"A
consideração é a de que o policial é um ser descartável. Se morrer, enterra,
toca o hino, joga a terra em cima, dobra a bandeira, entrega para a família e
coloca outro (PM) no lugar", disse ele à BBC Brasil.
"O
número de mortes em 2017 e 2018 é assustador. Nós vemos policiais morrendo a
troco de nada. Falta armamento, falta munição, falta viatura e a vida do PM não
é valorizada", critica.
'Polícia no morro sem presença do Estado
não resolve'
“O coronel Belo elenca alguns problemas que considera graves nas forças de segurança do RJ: salários baixos para soldados (cerca de R$ 2,6 mil), atrasos nos pagamentos, falta de investimentos, número baixo de efetivo (déficit de 20 mil homens, segundo ele) e treinamento deficiente nas corporações menos especializadas”.(...)
“Isto
porque, segundo ele, não adianta "colocar só policiais no morro" sem
garantir a presença do Estado em áreas como saúde, cultura e educação.”
"A
mídia divulgou tão bem as UPPs que inicialmente os bandidos fugiram. Mas os
demais órgãos do Estado não estiveram presentes. Não tem saúde, educação e
cultura, não tem presença do Estado. Só polícia não resolve. Os bandidos
voltaram", opina. (...)
Transcrito
do site abaixo:
Moradores da Rocinha, no
Rio, se despedem de Marechal, morto durante tiroteio
“Muito querido na comunidade, ele foi enterrado neste sábado, no
Cemitério do Caju. Polícia investiga se ele foi morto por ter ajudado um PM.”
Por RJTV
24/03/2018 13h47
A
despedida do Marechal da Rocinha.
“Moradores da Favela da Rocinha, na Zona Sul do
Rio, se despediram neste sábado (24) de um morador muito querido: Antônio
Ferreira da Silva, o Marechal, de 70 anos. Ele morreu durante o confronto entre
policiais e traficantes na noite de quarta-feira (21).”
“Marechal
era morador antigo da Rocinha e vendia ferro-velho e consertava
eletrodomésticos na comunidade. “O senhor que trabalhava aqui ao lado da loja
morreu. Deram tiro nele. Ele trabalhava, agora 'tá' morto”, lamentou no dia do
crime.”
“Mas muita gente não conseguiu ir ao enterro no
Cemitério do Caju, na Zona
Portuária, por causa do tiroteio do início da manhã
na comunidade, durante operação do Batalhão de Choque.”
“A polícia
investiga se Marechal foi morto por ter ajudado o PM Felipe Mesquita,
que também foi baleado e morto no confronto de quarta-feira.”
“Segundo informações preliminares, Marechal teria
tentado proteger o PM, após este ter sido baleado, e ainda devolveu o fuzil do
policial aos outros militares”.
“Recebemos essa informação. Há uma possibilidade de
isso ter ocorrido, mas ainda precisamos fazer novas diligências e avançar com a
investigação para podermos confirmar que isso foi de fato o que aconteceu”,
disse o delegado da Divisão de Homicídios, Breno Carnevale.
Transcrito do site abaixo:
"Padre
Júlio Lancelotti é ameaçado de morte; entidades de direitos humanos entram com
representação no MP".
“Coordenador
da Pastoral do Povo de Rua reclama que vem sendo vítima de ataques
principalmente de moradores e comerciantes da Mooca.”
Por Tatiana Santiago, G1 SP, São Paulo
21/03/2018 14h11
Padre
Júlio Lancelotti durante celebração de missa (Foto: Reprodução Facebook)
“Advogados e entidades de direitos humanos entraram
com representação no Ministério Público (MP) de São Paulo nesta terça-feira
(20) pedindo abertura de investigação sobre ameaças de morte contra o padre
Júlio Lancelloti.”
“Coordenador
da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e defensor de direitos
humanos, o padre reclama que tem sido vítima de ameaças de morte postadas em
redes sociais, principalmente de moradores e comerciantes da região da Mooca, na
Zona Leste da capital, onde tem uma forte atuação.”
“Devido a situação da população de rua na cidade
que cresce muito e está muito exposta, em vários bairros há um mal estar, uma
hostilidade muito grande contra a população de rua”, afirmou o padre de 69 anos
e que é pároco há quase 34 da Matriz Paroquial São Miguel Arcanjo.”
“O MP informou, por meio de nota, que recebeu a
representação das entidades e deu início às investigações.”
Reprodução
Representação MP (Foto: Posts de Facebook pregam intolerância e ódio ao padre
Júlio Lancelloti)
“O documento é assinado pelo Cardeal de São Paulo,
Dom Odilo Pedro Scherer, pelo advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da
Comissão da Infância e Juventude do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana do Estado de São Paulo (Condepe), e por entidades como Ação dos Cristãos contra a
Tortura, Grupo Tortura Nunca Mais, Comissão de Justiça e Paz, entre outras.”
“Para o padre, a representação ao MP é uma forma de
investigar as ações de ódio e intolerância. “Acho que é uma forma de notificar,
dar publicidade de exigir uma investigação. Isso é crime conclamar a morte de
uma pessoa pela internet”, declarou. Ele diz não ter medo de ataques e que dará
continuidade ao seu trabalho.”
Reprodução
Redes Sociais (Foto: Posts de Facebook pregam intolerância e ódio ao padre
Júlio Lancelloti)
Transcrito do site abaixo:
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